(para Rita Apoena)
Alguém disse
que só os poetas enxergam
as pequenas grandes coisas
do mundo.
Se a pena flutua por oito segundos,
enquanto a menina abraça o amigo,
se pende o balanço solitário,
quando estala a folha seca de outono,
se treme a flor no topo da árvore,
embalada pelo vento com cheiro de azul,
bem verdade é que o poeta nada vê.
Quem o faz
é o especialíssimo leitor,
que capta com
seus vastos sentidos
esse templo etéreo
de delicadezas.
O poeta amanhece, floresce,
flutua, abraça,
agoniza, pisa,
sopra, venta e voa.
Ele nasce, vive e morre
cada um desses infindos
frêmitos de plenitude.
Lu Tostes
Imagem: www.weheartit.com
“A lua é o imenso relicário do céu, onde Deus todas as noites delicadamente nina a luz do dia.” (Lu Tostes)
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
Sempre-vivas
O livro acolheu
o jardim que se foi,
nesta flor de um amarelo seco,
quase marrom,
que guarda na página vinte e três
o sorriso de Maria detrás da porta.
Sempre nos soubemos mais nós,
com o tempo da delicadeza,
no mesmo instante
em que o caule partido
em que o caule partido
esvaiu-se em seiva.
E se do que fomos
nós já não somos mais,
resta apenas
esse cheiro
na ponta dos dedos,esse cheiro
lembrando tudo que jaz.
Lu Tostes
Imagem: www.weheartit.com
domingo, 16 de outubro de 2011
O tempo da queda
Não houve
sequer uma mão
que alcançasse
os diversos esticares
dos meus pés
pelos ares.
Ao revés
do abismo,
todos passaram.
Eu fiquei.
Lu Tostes
Imagem: www.weheartit.com
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