“A lua é o imenso relicário do céu, onde Deus todas as noites delicadamente nina a luz do dia.” (Lu Tostes)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Da essência

(para Rita Apoena)


    
    Alguém disse
    que só os poetas enxergam
    as pequenas grandes coisas
    do mundo.


    Se a pena flutua por oito segundos,
    enquanto a menina abraça o amigo,
    se pende o balanço solitário,
    quando estala a folha seca de outono,
    se treme a flor no topo da árvore,
    embalada pelo vento com cheiro de azul,
    bem verdade é que o poeta nada vê.


    Quem o faz 
    é o especialíssimo leitor,
    que capta com 
    seus vastos sentidos
    esse templo etéreo
    de delicadezas.


    O poeta amanhece, floresce,
    flutua, abraça, 
    agoniza, pisa, 
    sopra, venta e voa.
    Ele nasce, vive e morre  
    cada um desses infindos
    frêmitos de plenitude.


    Lu Tostes






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domingo, 23 de outubro de 2011

Sempre-vivas


   
     O livro acolheu
     o jardim que se foi,
     nesta flor de um amarelo seco,
     quase marrom,
     que guarda na  página vinte e três
     o sorriso de Maria detrás da porta.

     Sempre nos soubemos mais nós,
     mas foi-se o perfume
   com o tempo da delicadeza,
     no mesmo instante 
     em que o caule partido
     esvaiu-se em seiva.

     E se do que fomos
     nós já não somos mais,
     resta apenas 
     esse cheiro
     na ponta dos dedos,
     lembrando tudo que jaz.

     Lu Tostes









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domingo, 16 de outubro de 2011

O tempo da queda



     Não houve
     sequer uma mão
     que alcançasse 
     os diversos esticares
     dos meus pés
     pelos ares.
     Ao revés 
     do abismo,
     todos passaram.
     Eu fiquei.


     Lu Tostes







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